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Da Dor à Dependência: O Trauma na Infância e a Dependência Química na Vida Adulta

Tempo de leitura: 3 min

A interconexão entre experiências traumáticas vivenciadas na infância e o desenvolvimento da dependência química, incluindo o alcoolismo, na vida adulta é um tema explorado por Gabor Maté em seu livro “O Mito do Normal”. Ao examinar a trajetória de indivíduos afundados na espiral das substâncias químicas, foi percebido que em alguns casos, as feridas emocionais de um passado distante, por vezes na mais tenra idade, podem moldar o presente e projetar sombras sobre o futuro. 

O autor propõe que os traumas enfrentados durante a infância, sejam eles físicos, emocionais ou psicológicos, criem uma ansiedade instável para a saúde mental. Essas experiências muitas vezes geram um cenário de dor e sofrimento, com sentimentos de abandono, medo e desamparo. Na busca por um alívio desses sofrimentos, alguns indivíduos encontram no álcool, em outras dr0g@s e mesmo, em outras compulsões, uma forma de fuga que, por um breve momento, essas substâncias amortecem os sofrimentos internos que, de outra forma, para esses indivíduos, seriam insuportáveis. 

A questão, na perspectiva de Maté, reside na compreensão de que, em alguns casos, a dependência química não é meramente uma escolha deliberada, mas um mecanismo complexo de enfrentamento. A utilização de álcool e outras dr0g@s muitas vezes é uma resposta enraizada à necessidade de neutralizar a dor latente e silenciosa do trauma não resolvido. O ciclo autodestrutivo da dependência pode, portanto, ser interpretado como uma instância inconsciente de autopreservação psicológica. 

No entanto, o autor também salienta que essa busca por fuga não é meramente uma busca pelo esquecimento, mas também por uma sensação de conexão e preenchimento. As substâncias promovem momentaneamente a sensação de pertencimento, preenchendo os vazios emocionais deixados pelo trauma. A dependência, nesse contexto, pode ser compreendida como um desejo por amor e validação, embora manifestada de maneira desviada. 

Nesse sentido, “O Mito do Normal” oferece uma visão holística e compassiva sobre a relação entre trauma na infância e dependência química na vida adulta. A obra ressalta a importância de abordar não apenas os sintomas manifestos de dependência, mas também as raízes subjacentes ao sofrimento. O tratamento eficaz, de acordo com Maté, não reside apenas na interrupção do consumo de substâncias, mas na abordagem das feridas emocionais subjacentes, no desenvolvimento de estratégias saudáveis ​​de enfrentamento e na construção de relacionamentos genuínos e de apoio. Na última análise, o livro nos convida a enxergar além das superfícies visíveis e compreender o impacto profundo do passado na jornada da dependência química na vida adulta. 

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